terça-feira, 22 de março de 2011

Toques de Cabeça


A VIDA É BELA

Por JMMA


Em 1988, o filme A VIDA É BELA, de Roberto Benigni, foi nomeado para sete Óscares, em Hollywood, e arrancou os de Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Actor e Melhor Tema.

O enredo dava conta de um homem que, prisioneiro num campo de concentração com a sua família, criou um jogo para que o seu filho nunca tivesse a mínima noção da realidade. Resultou. E para muitos dos que viram e aclamaram esta jóia do cinema, o resultado foi igualmente precioso: se há alguém capaz de sorrir quando tudo é horrível, porque não haveríamos nós, afinal, privilegiados, de continuar a sorrir? O ataque cobarde ao autocarro do Benfica (a palavra Benfica, aqui, é a que menos importa) e ao carro do seu presidente, mais um, só vem recordar-nos do que é capaz a besta humana à solta no reino dos vândalos. É um facto. Mas isso é tão óbvio que se torna gratuito falar no assunto.

Já o rotular insultuosamente tais agressões de “palhaçada”, como ainda há poucos dias se viu a propósito do alegado ataque a um dirigente (benfiquista, mas isso é o que menos importa) no Porto, é não só uma forma debochada de sonegar factos, mas inclusive (e mais grave) uma forma tácita e irresponsável de incitação aos mesmos.

A esses senhores, os mesmos que, afinal, tão obstinadamente se batem pelo poder estatutário da Federação; a esses senhores, para quem a versão portuguesa do ‘mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma’ é, afinal, não mudar nada para que tudo fique pior; a esses senhores, que têm o desplante de falar de “palhaçada” como quem açula as feras no Coliseu de Roma; a esses respondo como - imagino eu - faria Roberto Benigni às bestas que o violentavam no campo de concentração. Fazendo-lhe (às escondidas do filho) aquele gesto internacional (tão comum em Itália, onde se fala muito com as mãos): dedo médio teso, anelar e indicador encolhidos.

Que pena, Robert Benigni não poder esconder das crianças a imagem desta crónica!

1 comentário:

  1. A película evocada (de 1997 e nomeada para os Óscares em 1999), é um dos meus filmes de eleição.

    Já a história, assim contada, porque plena de considerações "pacificadoras", soa a 'deboche' (encantador vocábulo!!!) e falta de vergonha (há quem lhe chame carácter), bem à moda de alguns pasquins de esquina capital.

    Quem sabe não é pois, assim, também merecedora do tal gesto internacional...

    A violência (assim como a estupidez, a falta de urbanidade, a falta de formação/educação/respeito e a impunidade) não tem cor, norte ou sul, ou credo.
    Existe, apenas e só, porque deriva da orientação social enviesada a que alguns se entregam, ou a que (na opinião de muitos) são entregues.
    Não pode haver pois, sobre esta matéria, lugar a quaisquer juízos de intenção ou juízos sumários, a que sempre se dispõem algumas virgens ofendidas com vestes de anjo.

    Cumpre sim, e só, repudiar e erradicar do seio de todas as pessoas de bem, toda e qualquer manifestação deste tipo, SEMPRE que ocorra e ONDE quer que ocorra, e independentemente das vítimas que, SEMPRE e independentemente do LOCAL, são todas isso mesmo, vítimas.

    Agradou-me ter encontrado hoje lamento e condenação formal do ocorrido, da parte de duas grandes (senão as maiores) instituições desportivas deste País.

    Espelho, de resto, do que havia já sucedido (ou não !?!) em Janeiro do transacto ano, quando caso análogo se deu (mudou a vítima, que não o método e o estúpido, energúmeno, cobarde e criminoso agressor) noutro local e em hora diferente.

    Nada como ir verificar ao arquivo, ver as primeiras páginas de então dos tais pasquins, ou recuperar as declarações de então do omnipresente e M.D. Ministro da Administração Interna desta espécie de País.
    O País onde, pasme-se, algures num passado não muito longínquo, foram encontradas armas de fogo (entre outras) dentro do espaço físico de um estádio de futebol, num local ocupado por um conjunto de simpatizantes e/ou adeptos e/ou sócios de um clube, a quem havia sido conferido pelo clube direito de acesso (e usufruto) ao local, mau grado se tratasse de cidadãos anónimos, porque não constituídos legalmente sob a forma de qualquer associação (quem sabe a melhor e mais cobarde forma de actuar criminal e clandestinamente).

    Na dúvida… é pois sempre melhor começarmos por limpar/arrumar a nossa casa!
    Permite-nos, pelo menos, olhar os outros com outra cara, e evitar que nos apontem… o “dedo médio teso, anelar e indicador encolhidos”!

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