quarta-feira, 23 de maio de 2007

Colunista Convidado Residente, por JMMA

O PORTO PARA MIM MORREU

Acabou. Kaput. Finish. Ponto final.

Por me parecer uma criancice ou talvez uma atitude pró feminina, sempre detestei este tipo de frase-decreto. Mas a verdade é que não há outra forma de dizer quando decidimos acabar com algo na nossa cabeça; riscá-lo, tão definitivamente quanto possível, da nossa vida; arrumá-lo no arquivo morto. E pedir à memória a infinita misericórdia de falhar o mais possível. O que, aliás, se acontecer numa percentagem clinicamente aceitável, pode interpretar-se como um excelente sintoma de sanidade mental.

O Porto para mim morreu no domingo.

Dantes dava-lhe bigodes ao berlinde, humilhava-o em toques na bola sem bater no chão e até a cuspir era melhor que ele: acertava numa mosca à distância de três metros. O gajo não valia um chavo, mas para me irritar, afirmava que o Benfica e o título eram como as paralelas: nunca se encontravam. Eu protestava que não, que se encontravam sim senhor. Bastava querer e que haveria de acontecer já no próximo ano. O professor lixava-me: garantia que as paralelas se encontravam mas só no infinito!

Vi-o no domingo, depois dos jogos, numa cervejaria. Estava na mesma, só que de cachecol azul e branco e jeans em vez de calções. Quando lhe perguntei se já sabia dar toques, respondeu-me:

- Somos bicampeões!

E instalou-se na mesa em frente com os outros convivas, todos de cachecol em festiva e espalhafatosa paródia.

Vejo o gajo a acariciar a imperial, experimentar-lhe a frescura, erguer o braço, arredondar a boca. Como não sei se o cuspo acertaria àquela distância, sorrio-lhe. Sorri-me de volta de cima do cachecol, não dando conta que estou a dizer para comigo:

- Festejaste, mas sofreste!

Os convivas rodeiam-no extasiados, certamente também eles convictos da teoria das paralelas.

Cresce-me a saliva na boca. Como eu gostava de poder acertar no copo. Mas nem sequer essa sorte. Deus meu, os dons que a gente perde com a idade.

Enquanto o gajo, triunfal, emborca a loira, em roo humildemente mais um tremoço.

E decidi, está decidido: Xico Calisto - vítima dos históricos campeonatos de berlinde, toques na chicha, escarro ao alvo, de apelido o Porto – para mim morreu!

2 comentários:

  1. Vitor, Luís, Felgas:

    Confesso-me arrependido.

    Eu só queria «matar» o Porto e afinal parece-me que quem morreu foi o blogue.

    Querem ver que o «Polónio-210» foi parar ao sítio errado!

    Se foi como parece, foi sem querer, acreditem.

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  2. Eu quero é alguém a falar da Taça... carago!!!

    Luís Santos

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